Sentado a beira do Rio Ganges, estava um pequeno garoto. O sol estava se pondo e, o simples toque dos raios da enorme estrela em seu longo cabelo, era suficiente para um brilho anormal lhe dourar o cabelo de cor verde-esmeralda. Suas pernas estavam cruzadas, uma sobre a outra e, seus dedos, entrelaçados. Meditava.
Sem se importar com aquilo e nem ao menos dar atenção ao pequeno garoto, um adulto, com roupas batidas e completamente sujas, começou a se banhar no Rio. O garoto continuou meditando, mas parecia não ignorar aquele homem. Então, com uma voz rouca e demonstrando um desprezo, falou com aquele homem:
- Estás simplesmente banhando-se. Assim, sujas o rio que tanto fiz para lhes entregar da forma mais humana possível. Quem pensa que és mortal?
Sem entender nada, o homem parou de se banhar. Ficou com olhos fixos naquele garoto, porém, o pequeno nem mesmo fazia menção em abrir os olhos. O homem lhe respondeu, com um tom de deboche em sua voz.
- Pff... Ó ser divino, desculpe o mero mortal que aqui sujas esse rio. – em seguida, ele deu uma gostosa gargalhada. – Achas mesmo que vou ouvir um garotinho como você, moleque?
Aquele garoto nada disse e nem sequer deu ouvidos as palavras estúpidas disferidas por aquele homem. Com mais nojo ainda, ele continuou o que havia para falar.
- Vocês necessitam de uma salvação urgente. Hipócritas e capazes de desrespeitar um deus, qual medita perante o rio que ele mesmo lhes entregou.
- Você... Um deus? – debochou ainda mais o homem.
- Exato.
O garoto confirmou sem qualquer devaneio em suas palavras. O homem pareceu achar aquilo engraçado, porém, parecia se romper em fúria. Um simples garoto conseguia ser tão idiota ao ponto dele mesmo se nomear deus. Aquele homem partiu para cima, com os punhos cerrados.
- Hey moleque maldito. Irei lhe dar a surra que seus pais não são capazes de dar. Deve ser mimado o bastante.
- Há de erguer seu punho contra Shiva, o destruidor? – os olhos fechados e ainda na posição de meditação. – Irei lhe parar com apenas uma única sílaba, mortal.
- Arrogante! Seu moleque MALDITO! – o rapaz gritou em fúria e, sem qualquer tipo de compaixão, disferiu seu magro punho contra aquele garoto.
- ÕM! – gritou o garoto. Um brilho de luz cobriu o local, o homem caiu duro ao chão. Seus olhos não tinham focos e estavam com um tom branco. O garoto se levantou, ainda de olhos fechados, dando as costas ao homem morto. – Manchei o meu local com seu corpo coberto por desgraças mortais. Irei me retirar de sua presença qual corrompe meu sinal divino!

Desde aquele dia em que Rashne havia revelado seu poder e sua reencarnação como Shiva, o deus que destrói, buscou por todos os cantos do Mundo, aonde é que fosse possível, para reencontrar uma força espiritual ainda maior. Cinco anos haviam passado desde que havia deixado à Índia e partido em uma jornada. China, Alemanha, Irlanda, França... Nenhum desses países serviu para Rashne encontrar a força espiritual que precisava. Ele então tentou procurar a Grécia, claro, o país onde havia uma longa e eterna lenda sobre os deuses do Olimpo. Lá, algo lhe chamou ainda mais a atenção. Sentiu seu peito arder, e algo começou a correr por suas veias.
- Isso é...? – continuou a andar incansavelmente, aos poucos, algo ia lhe tomando ainda mais os brilhos de seus amarelos olhos. O local era incrivelmente grande e tomado por várias casas. Não, aqueles locais feitos por colunas de épocas antigas, eram templos. Rashne caminhou mais para perto delas e, ficou estático, próximo ao primeiro templo.
Algo completamente estranho lhe rodeou. Foi sendo capaz vez mais tomado por um brilho dourado. Aquilo lhe foi engolindo... Engolindo... Até mesmo que ele pareceu mergulhar em suas próprias memórias, e enquanto elas eram mostradas ao garoto, uma voz feminina lhe cortou a cabeça. Dizia suavemente e, cada palavra, era uma pétala da flor de Lótus aberta perante seus olhos.
- Rashne. Aquele que diz ser tão próximo a um deus, que é a reencarnação do mesmo. Tens a sabedoria de que, não foi você que simplesmente veio até o Santuário de Atena... Fui eu quem o guiei até aqui, Rashne.
Os olhos de Rashne estavam completamente vagos, porém, fixos nas imagens de seu passado que lhe eram passadas em frente a seus olhos.
- M-Me guiou até aqui...?
- Exatamente, Rashne. Ao seu simples toque no Santuário, a armadura de Virgem ganhou um brilho maior. Ela respondeu ao seu cosmo. Rashne guie-se até o Sexto Templo, lá a Armadura de Ouro de Virgem responderá ainda mais ao seu cosmo e, ao dia em que dominar o Sétimo Sentido, ela vai aceita-lo como Rashne, o Cavaleiro de Ouro de Virgem. Fará isso em prol do mundo que deseja o bem. Eu, como a deusa da guerra e da Sabedoria, guiarei meus Cavaleiros e os humanos, para um mundo limpo e justo.
Logo após as palavras da deusa foram sumindo, o cosmo dourado que envolvia o garoto também já foi se desfazendo e, Rashne pode voltar a si.
- Então... Assim será! Se desejares unir forças comigo, assim farei!
O garoto de cabelo verde-esmeralda entrou pela primeira casa, Áries. Mesmo que houvesse alguém ali, não o repreendeu. Foi assim até a casa de Virgem e, ficando-se próximo a Armadura de Virgem, Rashne sentou. Agora começaria uma longa jornada de meditações.

"Interessante... Essa coisa a qual os humanos chamam de cosmo. Essa explosão do universo em meu interior é tão... Quente. Sim, é quente. Eu sinto que cada veia, qual fazem meu sangue percorrer, vai explodir e criar uma extensa camada desse tal cosmo. Devo permanecer nessa posição. Não sairei daqui."
Cinco longos anos haviam se passado desde que, naquela tarde calorosa, Rashne havia sentido o quente cosmo de Atena o envolver e, por meio do mesmo, ter sua vida completamente mudada. Sentou-se na posição do Lótus e com a trishula em sua mão direita. A reencarnação de Shiva estava meditando por todos esses cinco longos anos. Conhecia agora cada célula de seu corpo. Conhecia até mesmo cada centímetro de seu corpo. Era a completa reencarnação do deus da destruição.
"Você já está a me chamar, oh sagrada Armadura de Virgem? Espere, eu ainda não estou pronto para lhe receber. Não, eu nem estou mesmo no nível em que desejo estar... Oh!"
Mesmo que seus olhos estivessem cerrados, era possível sentir o choque de cosmos, vindo de Rashne e da sagrada Armadura de Virgem. Como havia acontecido cinco anos atrás, um cosmo envolveu ao redor de Rashne, mas agora, não havia motivos para ficar surpreso. Um ligeiro sorriso lhe brilhou nos lábios e, diferente daquele cosmo dourado, um cosmo mais prateado formou-se ao redor de Rashne. A imagem de Shiva, meditando, estava em frente ao garoto.
- Você é aquele que diz ser a minha reencarnação? – perguntou o deus.
- Eu sou aquele que destrói. Trarei a destruição e, por fim, a salvação para esse mundo.
- E o que te faz pensar assim, Rashne?
Rashne ficou por algum instante quieto. Estar na presença de Shiva não era algo incomum, mas era difícil responder as perguntas que o deus traria de lhe fazer.
- A vida me fez pensar assim, Shiva. Quando digo que sou a tua divina reencarnação, esse fato não deixa de ser verdade.
- Você acha que pode ser tão divino quanto a mim, Rashne?
- Exato.
- E o que te faz pensar assim, Rashne?
Novamente o garoto ficou em um estado de quietude. Seus dentes rangeram por um longo tempo. Estava perdendo a calma. Não, não era isso... Algo mais era o que estava e, o que melhor de resposta do que uma pergunta?
- Em controvérsias de uma conversa entre seres divinos, qual é o desejo sobre Rashne, Shiva?
- Rashne, esqueceste teu verdadeiro propósito? Agora que decidiu se aliar as causas de outra deusa, você não passa de um mero humano.
- Qual o motivo de dizer tal fato, Shiva?
- O fato? Ainda não foi capaz de descobrir o que lhe quero dizer, Rashne? Você, agora é um ser submisso a uma deusa grega. Aceitando este fato, não és mais do que um mero mortal. Entende? Eu já lhe dei meu recado, Rashne. Cabe a você aceitar seu destino...
O estranho cosmo de Shiva foi se dissipando aos poucos. Lentamente, Rashne foi voltando a sua casa, a casa de Virgem. Estava sentado em frente à armadura de Virgem. Seu cosmo havia se rebelado ao momento das palavras que foram disferidas por Shiva. Sem ao menos saber, Rashne sentiu seu corpo esquentar.
- Entendo... Você não quis me rebaixar, Shiva. Entendo seu verdadeiro propósito, mesmo que neste estado de desgraças. Sou capaz de compreender a dor e o sofrimento que corrompe os homens, mas, também sou capaz de compreender perfeitamente os estados do cosmo. Agora é a nossa hora, Virgem.
A armadura explodiu em um brilho único. O simples choque do cosmo de Rashne e do Cloth de Ouro foi suficiente para subir e descer tantas casas zodiacais. Ainda com a trishula em sua mão direita e sobre a posição da Lótus, Rashne suspirou.
- Ao simples toque nos tornamos um só. E agora começarei, como um deus e junto de Atena, a trazer a salvação para tal mundo apodrecido. Oh, como eu me esqueceria de você, Virgem. Me guiarás ao caminho da vida Eterna.
Reencarnado nesta Era. Além de ser um deus, Rashne agora era um completo Cavaleiro de Atena. Com seu desejo lhe tomando todo, traria salvação ao Planeta. E isso começaria agora!